
É da natureza humana reunir os queridos para celebrar conquistas e ritualizar passagens, mudanças de etapas, transformações.
A força do coletivo nos traz a sensação de pertencimento e, ao mesmo tempo, dá lastro e concretude para eventos importantes da nossa biografia. Celebrar em grupo expõe o significado e revela a essência.
Nos dias atuais, porém, muitas vezes temos, durante a preparação de uma festa ou ao final dela, uma sensação de “vazio”.
Saímos exaustos do esforço concreto de fazer a festa acontecer e até mesmo extenuados pelas trocas sociais, mas pouco nutridos do que sentimos no âmago ser a verdadeira razão do celebrar.
A essência de toda celebração é o encontro humano, em troca genuína, para festejar com consciência e intenção a alegria calma de subir cada degrau, cada estágio, cada passagem, cada conquista, do desenrolar da nossa vida.
Se a gente “botar reparo”, toda festa tem uma essência. Só que quase todas elas têm sido deturpadas nos dias de hoje pelo consumismo e pelo materialismo. Até “decoração minimalista” e “decoração artesanal” viraram itens de comércio, que podem ser adquiridos, muitas vezes, sem nenhuma personalização ou sentido.
Resgatar essa essência do festejar, em rituais com sentido e com sentimento, é minha proposta, que pode se estender para qualquer ocasião a ser celebrada.

A Essência do Chá de Bençãos para Gestantes
O chá de bênçãos, nesse contexto, é o momento de reunir, em torno da gestante, aqueles que a amam, sem a plástica muitas vezes vazia dos rituais modernos de chá de bebê, chá de revelação, chá de fraldas…
Um encontro para depurar a essência do que importa nesse momento tão mágico de amor e expectativa, mas também de tanta vulnerabilidade e insegurança, que é o gestar.
Para compartilhar a ancestralidade desse momento único de final de gestação, por meio da troca de forças e fraquezas tão humanas, por meio do compartilhar de experiências e sabedorias com quem lhe é querido.
Para celebrar toda a beleza da expectativa do vir a ser que dorme no útero gestante.
Para nutrir a mulher que renascerá com o parto eminente do que ela realmente precisa para atravessar esse portal.
Não fui eu quem inventou nem quem resgatou esse nome “chá de bênçãos”, mas o acho fantasticamente apropriado.
Não se trata de um pacote de festa que você compra, desembala, usa e descarta, mas sim um olhar atento e uma escuta ativa para trazer para cada gestante a celebração no formato e tamanho de que ela precisa para nutrir-se.
Mas… me explica melhor, o que é esse Chá de Bençãos?
O Chá de Bençãos tanto pode ser uma iniciativa da própria gestante quanto um presente organizado pelas amigas e familiares.
Em qualquer dos casos, tudo começa com uma conversa informal, em que vou escutar e procurar entender como está a gestação, expectativas e preocupações em relação ao parto e à chegada do bebê (independentemente de ser a primeira gravidez ou de quantos filhos tenhamos, há sempre uma transformação a ser acolhida e nutrida) e lapidaremos juntas as intenções quanto ao formato e convidados para a celebração.
Alinhadas as diretrizes, eu entro em contato com cada convidada(o) e passo de forma carinhosa e delicada as intenções da celebração, aparando eventuais arestas (ou seja, assumo essa parte que costuma desgastar a gestante). Aproveito esse contato para propor aos participantes uma reflexão prévia que já começa a movimentar, no campo sutil, as emoções de cada um para que, da mesma forma com que a gestante prepara a casa para receber esses abraços, os convidados também se preparem para trazer para esse dia o que tem de melhor em seu coração.
A celebração independe de número mínimo ou máximo de participantes. É muito curioso como, no dia, percebe-se que o encontro fica do tamanho que a gestante precisa, só aparece quem tinha mesmo que estar lá. A magia do círculo!
O Ritual
No dia do Chá, o ritual pode variar bastante, a depender do que for alinhado com as intenções, expectativas e necessidade de nutrição anímica da gestante. Pode ter um escalda-pés ou outros mimos para acolhê-la e aquecê-la: velas, versos, incenso… Essa parte a gente constrói juntas com antecedência para ficar com a cara da gestante (sua personalidade, seus gostos, seu jeitinho pessoal) e não uma caricatura ou uma fórmula pronta.
O essencial, porém, é o momento em que todos os convidados sentam em roda da gestante, como antigamente, para uma troca muito calorosa. Sustentando esse círculo com intenção, a mágica acontece na troca! Cada um traz para a gestante seu ouro, seu brilho. Muitas vezes algo completamente inusitado, diferente do que se preparou para falar ou ofertar, mas certamente aquilo que precisava ser dito e entregue. Essa é a beleza!
A ideia é que nada seja imposto ou desconfortável. Que tudo seja fluido e natural. É meu papel também cuidar do tempo com delicadeza para que todos tenham o momento de troca sem que se estenda demais ou se torne cansativo.
Findo o ritual, a festa segue na forma como a gestante planejou (com comes e bebes etc.) mas numa frequência de conexão bem diferente do que nas festas de chá de bebê a que estamos acostumados.
Ao final, tanto a gestante quanto os convidados saem mais preenchidos, mais vitalizados, mais felizes do que chegaram, alinhados com a frequência de amor da nova vida que está chegando. Essa é a grande benção!
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